Na tradição dos sufismos persa e árabe, a figura lendária do instrutor Nasrudin, famoso por sua irreverência, lembra de certo modo as atividades súbitas, surpreendentes e radicais de alguns mestres zen. Um episódio da vida de Nasrudin, porém, mostra como é indispensável fazer sacrifícios para combater com eficiência a corrupção política. O sábio tinha uma boa notícia para transmitir ao rei. Embora por tradição qualquer súdito tivesse acesso à corte; só depois de muita dificuldade ele conseguiu falar com o soberano. O rei ficou extremamente contente com a notícia recebida, e perguntou, afinal, o que Nasrudin desejava ganhar como recompensa.
— Cinquenta chicotadas, foi a resposta.
O rei, naturalmente, ficou surpreso. Mesmo assim, chamou o homem do chicote e determinou que o desejo de Nasrudin fosse atendido. Os golpes começaram. Quando soou a 25ª chicotada, Nasrudin, ofegante, gritou:
— Pare! Agora, por favor, majestade, traga o meu sócio e dê a ele a outra metade da recompensa.
— Como? Que sócio?, perguntou o rei. — Majestade, explicou Nasrudin, o seu chefe de gabinete sabe que eu sou um homem de palavra, e só marcou esta audiência depois que eu aceitei prometer solenemente que daria a ele a metade de qualquer recompensa que recebesse pela boa notícia trazida.
E o rei mandou executar o que Nasrudin pediu.